sexta-feira, 22 de julho de 2016

Um ensaio: O ego é um tubo de ensaio teatral!

Parto de Hillman que em Re-vendo a Psicologia nos diz: “Vidro, em sonhos, como janelas, vidraças, espelhos, apresentam o paradoxo de uma transparência sólida; seu verdadeiro propósito é permitir enxergar através. O vidro é a metáfora, por excelência, da realidade psíquica: ele é em si mesmo invisível, aparentando apenas seus conteúdos, e os conteúdos da psique, localizados dentro ou atrás do vidro, são movidos da realidade palpável para a realidade metafórica, fora da vida e dentro da imagem. Apenas quando o alquimista pode colocar as substâncias de sua alma em um vaso de vidro e mantê-las ali é que seu trabalho de psicologizar efetivamente se iniciou. O vidro é a imagem concreta para o ver através.”

Ego, um tubo de vidro e um palco


O ego é um tubo de ensaio teatral. Um palco onde as substâncias arquetípicas se apresentam. Dentre suas melhores qualidades, pode-se considerar, a transparência e a receptividade, para assim ver através dele como imagem e ver as imagens que nele atuam em determinado momento da história de um sujeito. A consciência é um olho que vê isso acontecer, uma pequena luz na psique, que se dá conta do espetáculo, do eterno ensaio do drama humano.


As substâncias alquímicas estão dentro deste continentezinho, se misturam e reagem, foram catalogadas por intuição(?) pelos alquimistas e intuídas como psicológicas por Jung. Através de Jung ganhou a relevância no tratamento da alma humana e observou-se a metáfora por trás das imagens alquímicas.


É teatral o ego, mas apenas como palco, mas um palco deve portar-se como tal, com receptividade de vaso, mas a qualidade do palco/vaso interfere no espetáculo, talvez não tanto quanto se imagine, por isso a necessidade do ego “baixar a bola” e entender seu papel, isso não é diminuir e muito menos extinguir sua importância, mas sim tentar dimensionar o papel que lhe cabe. A ilusão é pensar que o ego é o protagonista, quando é um tubo de ensaio, onde se dramatiza a individuação das imagens e a transformação da psique, são funções bem diferentes, mas aparentemente bastante fáceis de se confundir quando agimos de acordo com nossa mentalidade ocidental.


Sendo assim, feito “como se*” fosse de vidro, o ego é valioso pela sua transparência. Claro que com o agir das substâncias pode-se ocorrer alguma reação com o vidro e o mesmo não apresentar uma transparência de 100%, e é ai que está a graça! Assim nos formamos, assim constituí-se uma noção de Eu interessante para a psicologia junguiana, um Eu experiente dessas substâncias, que viveu essas reações, que é de certa forma, transparente e que não confunde-se com o conteúdo que transita em seu interior.



*O Como se pode-se dizer uma técnica junguiana em que se encara o drama das imagens interiores de uma perspectiva, digamos assim, no limiar entre a teatralidade e a plena realidade, já que o “ver através” de Hillman se dá através do “como se” de Jung. A psique com seus atores e o ego como palco atuando na totalidade humana como se fossem de verdade, mas a realidade psíquica é tão verdadeira quanto a realidade material, só que sua natureza metafórica exige esse olhar poético, metafórico que e enxerga através que faz de conta como se. Essa é sua realidade.

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